Doença de Alzheimer: uma doença da família

Atualmente, há no Brasil em torno de 1,5 milhão de pessoas diagnosticadas com a doença

Há três anos, o advogado Otávio Trierweile, 67, acordou ao lado da esposa, Ana Maria, com quem é casado há mais de 40 e não a reconheceu. Também não lembrava onde estava e quem eram seus três filhos, um deles, a psicóloga Adriane Trierweile. No início deste ano, foi diagnosticado pelo Serviço de Neurologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) com doença de Alzheimer, que afeta principalmente idosos acima de 80 anos (a prevalência nesta faixa etária é de 50%). “Começou com um esquecimento e foi piorando aos poucos. Foram dois anos de angústias sem saber realmente o que meu pai tinha. A confirmação veio após uma ressonância magnética no hospital, onde iniciou o tratamento. Saber realmente o que é nos tranquilizou até para entender a doença e adequar a forma como vamos lidar com ela e ao tipo de tratamento exigido”, destaca Adriane, ao relatar que a família teve de adaptar completamente para conseguirem as melhores comodidades para o pai, que “é um homem culto e entendia profundamente das leis”. “Mesmo sendo psicóloga não é fácil, pois mudou toda a rotina da casa. Ele muda rapidamente de humor, faz pirraça, má criação, não fala coisas conexas e anda com muita dificuldade. O mais difícil é para minha mãe. Mas ela cuida dele como se fosse uma criança” revela. Os problemas vividos pela família de Adriane são os mesmos passados pela família da ex-representante comercial, Eliane da Cruz, desde que há oito anos sua mãe, dona Maria Isabel Ferreira Cruz, 81 anos, foi diagnosticada com Mal de Alzheimer pelo Serviço de Neurologia do Hospital Federal Cardoso Fontes (HFCF). Desde então, vem realizando o tratamento na unidade, sendo acompanhada pelo médico neurologista Cassius Pierry Oliveira Martins. Eliane conta que a mãe trabalhou a vida inteira em serviços domésticos, mas agora não consegue mais fazer coisas simples, como se deslocar sem a ajuda de uma cadeira de rodas ou ir ao banheiro. “Às vezes ela passa um bom tempo mexendo com a colcha ou o lençol como se estivesse lavando roupa. Já causou uma explosão no fogão. Também tem muitos problemas para se lembrar de coisas que fez ou das pessoas, até das mais próximas”, conta. Os dramas passados pelas duas famílias atingem a cerca de 1,5 milhão de pessoas no Brasil, que também são diagnosticadas com o Alzheimer, uma doença degenerativa, que não tem cura. De acordo com o chefe de serviço de Neurologia do HFSE, Rogério Monteiro Naylor, “provavelmente, este número vai crescer, uma vez que a tendência da população idosa no país é de crescimento”. Além disso, conforme as faixas etárias vão aumentando acima dos 60 anos, também amplia a possibilidade do desenvolvimento da doença. Como explica Naylor, a doença foi descrita pela primeira vez em meados do século passado, pelo Alemão Aluysios Alzheimer e afeta a capacidade de gerir os atos da vida cotidiana, sejam os do trabalho ou os que envolvem as atividades domésticas, se caracterizando pelo declínio gradual, lento e progressivo da função intelectual.

Sintomas e tratamento – Para o médico neurologista, o esquecimento não é o maior problema, mas as alterações que provoca na vida dos familiares. “O mais grave é a incapacidade de realização de atos habituais como se vestir e a higiene corporal. Há alterações no comportamento e no humor, que impactam o dia-a-dia da família. É uma doença da família e não da pessoa que, normalmente, fica alheia”, destaca Naylor, que atua há 10 anos com pacientes acometidos pela enfermidade e, neste período, já atendeu mais de 500 usuários com a doença no serviço de neurologia do HFSE. Por sua vez, o médico neurologista do Hospital Federal Cardoso Fontes (HFCF), Cassius Pierry Oliveira Martins, enfatiza que a doença possui três estágios: inicial, intermediária e avançada. “Em nenhuma delas é recomendável que a pessoa viva só ou cozinhe. Contudo, é importante não excluí-las de todas as atividades da casa, para que não se sintam inutilizados”. Para ele, é fundamental uma orientação médica aos cuidadores, para que conheçam mais sobre a doença e, desta forma, possam “amenizar os percalços que certamente irão acontecer”. “Fazer rodízio de cuidadores pode evitar o esgotamento físico e mental”, ensina. Entre os sintomas mais comuns estão: a troca de objetos de lugar, ficar repetitivo, esconder pertences, alterações da linguagem, com dificuldades de escolher palavras e reconhecer objetos, desorientação no tempo e no espaço, dificuldades em executar tarefas habituais. Outros sintomas também podem se manifestar como alterações na personalidade e do humor, como apatia, isolamento e depressão, além de alterações no comportamento, como suspeição, paranoia, delírios, raiva, inquietação, perambulação, confusão mental ao final da tarde, alucinações e alterações do sono. “Os sinais vão mudando com o avançar da doença, que, pode ser confundida com outras demências ou mal de Parkinson. É importante o diagnóstico para que o tratamento freie a doença. Existem testes clínicos de rastreio que seguem critérios diagnósticos aceitos mundialmente. Também devemos realizar exames laboratoriais no sangue e no liquor e de imagem, como ressonâncias magnéticas ou tomografias computadorizadas, afim de fazer diagnóstico de exclusão de outras demências”, explica Cassius Martins, ao observar que as formas de prevenção são aquelas já recomendadas para uma boa saúde, como manter um estilo de vida saudável com a prática de exercícios físicos e o consumo de alimentos naturais. Todos os testes e exames para o diagnóstico e emissão do laudo de medicamentos especiais, são oferecidos nos Hospitais Federais Cardoso Fontes (HFCF) e Servidores do Estado (HFSE). O tratamento, ofertado gratuitamente pela rede pública, se divide em específico para a demência, com remédios como donepezila, glantamina(er), rivastigmina e memantina(xr); e para controlar as intercorrências clínicas e psiquiátricas da enfermidade, como por exemplo, os distúrbios do sono, a agressividade e a agitação.

Fonte: Ministério da Saúde

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